A Galeria Fernando Santos inaugura, no Porto, Portugal, no próximo dia 19 de Setembro a exposição de desenho e escultura de Alberto Carneiro, "A Oriente na Floresta de Ise-Shima".
Escultor com um vasto currículo, e considerado por muitos o escultor maior da Arte Portuguesa Moderna e Contemporânea, Alberto Carneiro apresentará como peça central da exposição, a Obra "A Oriente na Floresta de IseShima", 1996/97, apresentada no CAM - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa em1997, sobre a qual o próprio artista escreve:
"Não se realizará a obra de arte como um indispensável bem social entre correspondências culturais da identidade dos povos, das etnias, das civilizações e, simultaneamente, na sincrética possibilidade de ela poderresponder a todos os autismos estéticos na mais retirada das manifestaçõespessoais de fruição? A obra de arte não tem tempo, movimenta-se no espaço da nossa consciência histórica. O tempo dela pertence a cada momento de fruição. E é no espaço simbólico que ela se autentica como referência para anossa vivência estética.".
Um conjunto de desenhos recentes e inéditos.
- Esculturas recentes e recentemente apresentadas na exposição, "As Árvores como os rios correm para o Mar", que teve lugar no passado mês de Março na galeria Municipal da Câmara de Matosinhos.
Tal como Paulo Pires do Vale escreve no catálogo dessa exposição "As Árvorescomo os rios correm para o Mar" "(...) É essa energia ligada à terra-mãe fecundada pela água-da-vida que se manifesta na obra de Alberto Carneiro: as árvores como os rios fluem para o mesmo mar. Os símbolos polissémicos que o escultor retoma, como aqueles presentes no título desta exposição, com as suas diferenças e matizes insubstituíveis, remetem todos para a origem, para o tempo dos começos. Alberto Carneiro procurou, desenvolveu e recriou uma linguagem ancestral e perene, linguagem pré-judaico-cristã que se sabe pós-cristã. (...) A árvore é, para ele, verdadeira "mandala vertical" - que o artista identificará em 1978 com o seu próprio corpo: Ele mesmo mandala emsi.
A obra de Carneiro desenvolve-se, como dizíamos, em redor de uma erótica da terra.
Alberto Carneiro propõe nas suas obras uma arqueologia da carne: não éa "espiritualização" do corpo que está aqui em causa, mas a compreensão da reversibilidade essencial da carne que se compreende como relação. É ao ser-incarnado em abertura ao mundo que nos dirige. O corpo é coisa e mediação das coisas. Linguagem que transporta sempre um fio de silêncio, eessa reversibilidade é-nos essencial: "O invisível, o espírito, não é outrapositividade, mas o avesso, o outro lado do visível".
É o tocante que sesente enquanto tocado quando toca. Sentir é sentir-se, e as obras deste artista demonstram o carácter reflexivo do encontro com o mundo e os outros. Há, assim, a recusa do puro objecto, para se perceber a relação íntima dele com o sujeito: no fundo, aqui, sujeito (Eu) e objecto (Natureza) são um. É anatureza em nós, e nós na natureza.
Relação: entre o escultor e a matéria; entre os vários elementos que constituem a obra; e entre a obra e o experimentador, que através dela refigura o seu mundo. O artista não representa nem árvores, nem rios, nem corpos. Facilita a possibilidade de o espectador encontrá-los em si mesmo.(...)
O trabalho continuado e persistente de Alberto Carneiro é eco de um estremecimento longínquo, um tremor que da terra nos toma o corpo. Ele não esconde a perplexidade, deixa-nos no aberto, na clareira de um bosque, dentro do que nos é infinitamente próximo e que estranhamos. Não nos oferece o conforto de uma lógica, de uma moldura, de uma distância de segurança: em espiral faz-nos percorrer o espaço da nossa própria memória e corpo, em direcção a essa profunda identidade com a terra, a montanha, o rio e o bosque. A sua árvore soube criar raízes profundas no betão.
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