O empresário Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto (Portugal), lança quinta-feira o livro "Uma questão de carácter", onde lamenta que a cidade esteja "mais fechada e mais agreste" do que é sua tradição.
Na introdução, Rui Moreira explica que o livro surgiu na sequência da sua participação, em Março de 2009, no ciclo de conferências "Olhares Cruzados", promovido pelo Público e pela Universidade Católica, sobre "O Porto e o Mundo".
Terminado o ciclo, o empresário sentiu que muito tinha ficado por dizer sobre a sua visão para o Porto no contexto nacional e internacional, pelo que decidiu avançar para um livro num momento em que, como refere na introdução, o Porto de antigamente, liberal, amante do trabalho, orgulhoso, está a ficar, "enquanto sociedade, menos liberal e permeável, mais fechado e agreste".
"Até as suas elites parecem desmobilizadas, descrentes e, por vezes, rancorosas", lamenta, citando Agustina Bessa-Luís para dizer que a cidade "perdeu a sua graça".
"É dessa falta de graça que se queixam alguns dos que sempre gostaram do Porto e que hoje, quando por cá passam, se espantam ou até se horrorizam com o que ouvem", acrescenta.
Rui Moreira considera que o Porto de hoje "corre um risco inédito, porque o fim da sua burguesia liberal, o envelhecimento das suas elites tradicionais, parece estar a ocorrer em simultâneo com o aparecimento, aqui e ali, de um proselitismo que não é de bom augúrio nem poderá trazer nada de bom".
Rui Moreira refere-se nomeadamente a "uma nova forma de arrogância, por vezes 'rebocada' pelos êxitos do Futebol Clube do Porto, que parece estar na moda e que nada tem a ver com a velha rudeza que caracterizava a sociedade portuense".
Estes novos tempos e ventos merecem outros lamentos do empresário ao longo do livro: "vão longe os tempos em que a comunicação social do Porto e, em particular, a sua imprensa escrita tinha uma enorme importância. Através da notícia e da opinião, projectava-se a imagem do Porto, da sua cultura e da sua sociedade, muito para além das suas fronteiras".
"Naturalmente, propiciava-se assim a existência de uma forte opinião pública e criavam-se condições para a afirmação e permanente renovação das elites da cidade", recorda.
Hoje, lamenta Rui Moreira, "infelizmente não é assim. Com as televisões e as rádios concentradas na capital, a nossa cidade só é notícia graças às vitórias desportivas do FC Porto e por via das desgraças ou tragédias que acontecem".
"Uma questão de carácter" tem prefácio de Adriano Moreira, que lamenta a "crise da confiança" dos povos ocidentais nos seus Estados, porque "nenhum deles conseguiu salvaguardar as estruturas tradicionais abaladas pelo globalismo sem governança que lhes desactualizou os conceitos estratégicos".
Adriano Moreira considera que, face ao que classificou de "desastre financeiro mundial", o caminho de diminuição do papel do Estado "a favor das privatizações que cresceram do ensino e da economia até à crescente privatização da guerra", sintetizado na máxima "menos Estado e melhor Estado", conduziu as estruturas "à falta de Estado suficiente e sem lideranças".
Fonte: Lusa/Expresso
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