sábado, 27 de setembro de 2008

Entre dias sem pão e pão sem dias

Entre as ruas
do Bairro de Benfica
da então Nova Lisboa
e a última etapa
de um sonho,
Aprendi que importantes
são todos aqueles
(e serão certamente alguns)
que nos estendem a mão
quando tropeçamos
numa pedra.
Mas também aprendi
que mais importantes
são todos aqueles
(e serão certamente poucos)
que tiram a pedra
antes de passarmos
e que dificilmente
saberemos quem são.
Aprendi que o possível
se faz todos os dias.
Infelizmente muitos de nós
(já para não falar
de muitos dos outros)
nada aprenderam.
Entre dias sem pão
e pão sem dias,
continuo a tentar ser
o que sou e não
o que tantos outros
querem que eu seja.

(Obrigado Eugénio Costa Almeida)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Lá de longe

Lá de longe
onde um outro sol
castiga mais,
chegam novas
do vento
que não passa.
Falam-me de alguém
que morre ao olhar
o infinito da dor,
que chora ao ver
o horizonte escuro
dos nossos meninos.
Não vão para longe,
nem sequer vão.
Ficam. Apenas ficam
porque lá longe
há um outro sol
que castiga mais.

domingo, 14 de setembro de 2008

Um dia, talvez...

Um dia,
com ou sem o pai,
com ou sem o avô,
eles acabarão
por conhecer a minha
(e também deles)
terra.
E nessa altura,
mesmo sem saberem
o sítio exacto
onde deixei
o cordão umbilical,
vão respirar o silêncio,
beber o infinito
e dormir embalados
pela certeza
de que, afinal,
o pai, o avô,
tinha razão
quando chorava
de saudade.
Terão,
certamente nessa altura,
uma lágrima
no canto do olho.
Uma lágrima que ao cair
na terra quente
de Angola fará
nascer uma flor.
Uma flor sem nome,
uma daqueles flores
que só alguns vêem,
que só alguns sentem.