quarta-feira, 29 de abril de 2009

“Meninos de Ninguém - O caso Gisberta”

A jornalista Ana Cristina Pereira lança hoje, em sessão dupla no Porto (Portugal), o livro de reportagens “Meninos de ninguém – O caso Gisberta e outras histórias”, uma colectânea de trabalhos sobre crianças desprotegidas ou delinquentes.

A primeira apresentação está marcada para as 18.30, no Centro Educativo de Santo António, na Rua do Melo, 5, e conta com a presença da directora geral de Reinserção Social, Leonor Furtado, da psicóloga Teresa Rosmaninho e do jornalista David Pontes (director adjunto da agência Lusa).

A segunda está prevista para as 22 horas, no bar Armazém do Chã, na Rua de José Falcão, 180, com a colaboração do jornalista Amílcar Correia (Público), do docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto Luís Fernandes, que prefacia o livro, e do actor Rui Spranger, que lerá excertos da obra.

Ana Cristina Pereira estudou Comunicação Social na Universidade do Minho e é jornalista no jornal Público, dedicando-se a temas como a pobreza, dependências, trabalho infantil, delinquência juvenil, violência intrafamiliar, migrações e minorias. Dado à estampa pela Editora Ulisseia, “Meninos de Ninguém” é o primeiro livro de Ana Cristina Pereira.

domingo, 26 de abril de 2009

Morreu um Poeta

O poeta angolano Tomaz Jorge morreu ontem em Lisboa, onde residia há vários anos, vítima de doença prolongada.

Nascido em Luanda, em 1928, integrou em 1950 o movimento literário nacionalista "Vamos Descobrir Angola", ao lado de outros intelectuais como Agostinho Neto, António Jacinto e Viriato da Cruz, motivo que o levou á cadeia várias vezes.

Era membro fundador da União de Escritores Angolanos – UEA e publicou o seu primeiro livro de poesia em 1963 "Canção da Esperança", estreia literária, que arrematou em 1995 com uma antologia da sua obra completa, "Talamungongo - 50 Anos de Poesia", a sua herança poética.

Era filho do poeta português Tomaz Vieira da Cruz, que viveu a maior parte da sua vida em Angola e foi autor de várias obras em que se destacam "Quissange, Saudade Negra" (1932) e "Cazumbi (1950).

Dividindo a sua vida nos últimos tempos entre Angola e Portugal, por razões familiares, Tomaz Jorge foi sempre um defensor da cultura e do nacionalismo angolano.

O corpo vai a sepultar hoje pela 15 horas no Cemitério de Benfica (Lisboa), após uma missa em sua intenção na igreja de S. Domingos de Benfica.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

De mãos dadas na Restinga

Não chores quando olhas
a saudade que escondes
nos vagos pensamentos
que te adormecem a olhar
lá para longe, lá para Angola.
O que importa, podes crer,
é que foi o melhor da vida
caminharmos de mãos dadas
nas areias sonolentas
da Restinga acordada
pela poesia que chegava
do outro lado do horizonte.
Não chores quando olhas
e apenas vês o que sentes.
E o que sentes é o que corre
nas veias da alma que tens,
mesmo sem querer, aos teus pés,
quando fechas os olhos
e me beijas de novo
nas areias sonolentas
da Restinga acordada.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Salgar a minha dor

Os teus olhos doces
salgaram a minha dor
naquela madrugada
em que a noite foi eterna.
Foi a última, entre promessas
que sabíamos impossíveis
de amamentar.
Foi lá longe onde a saudade,
agora aqui tão perto,
castiga bem mais.
Transporto, apesar disso,
o teu olhar gravado
no coração que guardo
escondido na memória,
abençoado pelas lágrimas
que também escondo
mas que vão adoçando
o teu olhar que continua
a salgar a minha dor.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

“A Siamesa” de Kate Hama

“A Siamesa – I Aparição”, é a primeira parte de uma trilogia de que é autor Duque Kate Hama, pseudónimo literário de Bartolomeu Alicerces Neto Hama, e que tem prefácio de Rodrigues Vaz e chancela da Pangeia Editores.

Trata-se de uma obra que se pode enquadrar facilmente na ficção-científica, dado o facto do autor apresentar, no texto, máquinas e mecanismos que, aliados ao conhecimento cientifico, se prevêem que um dia, na totalidade, poderão ser dominados pelo homem.

No enredo construído pelo autor, a Siamesa navega em tramas onde estão presentes viagens interplanetárias e, inclusivamente, a hipótese da existência de outras formas de vida inteligente e mesmo de sociedades noutros mundos.

Uma obra condimentada e apimentada com termos e dizeres da região centro, e com vários neologismos vem, apesar do seu carácter de ficção-científica, mostrar o lado moral, social e político da sociedade humana: o questionamento de todo e qualquer tipo de totalitarismo, assim como a incorrecção de se fazer justiça pelas próprias mãos.

Trata-se, quer se queira quer não, de uma obra, que reflecte e foi influída nas vivências de Hama no exército da Unita (FALA), onde esteve incorporado e nas vivências tidas na Jamba, antigo bastião do Galo Negro.

Duque Kate Hama é o pseudónimo literário de Bartolomeu Alicerces Neto Hama, que nasceu a 16 de Julho de 1963, no Município do Bailundo, Província do Huambo.

Militar de carreira há cerca de 20 anos e, actualmente, com o posto de General, Hama divide o seu tempo entre a escrita, os estudos e as actividades profissionais do ramo militar em que está enquadrado.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Uma lágrima,uma flor

Preciso de Angola todos os dias,
sinto-a todos os dias,
amo-a todos os dias,
chamo-a para junto de mim
todos os dias.
Angola não se define
– sente-se.
De olhos fechados
vejo e sinto Angola.
Angola é o meu próprio coração
por muito que isso custe
a quem não compreende
que sentir é a melhor forma
de ser digno.
Digno dos recantos e esquinas
da minha cidade,
digno de respirar o horizonte
que cheira a infinito.
Digno do sítio onde deixei
o cordão umbilical.
Digno de respirar o silêncio,
beber o infinito
e dormir embalado pela certeza
da saudade.
Digno de uma lágrima
no canto do olho.
Lágrima que ao cair na terra
quente de Angola
fará nascer uma flor.
Uma flor sem nome,
uma daqueles flores
que só alguns vêem,
que só alguns sentem.

E o meu Povo chora

O Povo, o meu Povo,
lá vai sonhando com as estrelas
de uma liberdade quase cheia
mas com a barriga vazia.
Come palavras de um mundo novo
cheio de promessas
que a vida amamenta na dor
de partos doloridos,
de violações agrestes,
que queimam os corações,
que todas as noites olham o luar.
Sinto-os a dizer, baixinho,
que também lá
o sonho comanda a... morte.
Luta, sobrevive, parindo sonhos
de amor que não se ouvem
em Luanda.
É o meu Povo que chora,
que sofre,
que luta para ser gente.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Amigos na madrugada

Procuro os amigos
que me dizem estar sempre,
sempre, presentes.
Alguns, poucos, respondem
seja dia ou noite,
seja sonho ou apenas fome.
A maioia esconde-se
nas latrinas que nas esquinas
dão um tom de vida
ao moribundo mundo
onde se escondem
com o rabo de fora.
Ainda bem. Assim se vê
que a madrugada só é noite
quando o infinito
não engravida o horizonte.