segunda-feira, 16 de novembro de 2009

(In)certezas da saudade

Não sei se alguma vez
poderei levar os meus filhos,
e os filhos dos meus filhos,
aos recantos e esquinas
da minha cidade,
dando-lhes a respirar
o horizonte que cheira
e sabe a infinito.

Sem palavras explicaria tudo.
Explicaria porque,
nas madrugadas embevecidas
pelo silêncio da pequenez
respiro o choro
de uma dor crónica.
Um dia, com ou sem o pai
com ou sem o avô,
eles acabarão por conhecer
a minha (e deles) terra.

E nessa altura,
mesmo sem saberem
o sítio exacto onde deixei
o cordão umbilical,
vão respirar o silêncio,
beber o infinito
e dormir embalados
pela certeza de que o pai
tinha razão
quando chorava
de saudade.

Terão, nessa altura,
uma lágrima no canto do olho.
Uma lágrima que ao cair
na terra quente de Angola
fará nascer uma flor.
Uma flor sem nome,
uma daqueles flores
que só alguns vêem,
que só alguns sentem.

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