sábado, 7 de junho de 2008

Em honra dos retornados

A casa, o sonho, a realidade
Lá ficaram perdidos, lá no Norte,
No norte de cristais celestes,
Foi-se a vida, foi-se a herdade,
Veio o fogo, a tortura, a morte,
A morte de garras agrestes.

O bago vermelho e triste do café
É um cristal na noite em borrão,
Em borrão, em borrão do hilota,
Tudo são saudades do que foi fé
E da vida que não foi sequer oração,
Oração morta pela guerra que brota.

As dores com sangue foram escritas
Terminando no cais do sofrimento
Onde nem o pensamento era reflectido,
Agora nem no teu Deus acreditas,
Ele deu-te a morte a cada momento,
Momento sempre de dor vivido.

Viveram e lutaram encorajados
Numa fé sempre espalhada ao vento,
E numa história que já não resiste,
Hoje são chamados de retornados
Que deixaram a alma ao relento
Numa terra onde a honra não existe.

Nem os poetas vos querem cantar
Nesta onda de franco oportunismo
Que dejecta na vossa bandeira,
Mas a justiça há-de chegar
Então com um novo heroísmo,
O heroísmo da verdade derradeira
.

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