domingo, 1 de junho de 2008

O teu (papa)gaio

Vinha longe, ainda muito distante
Quando te vi com ar muito tristonho
Contemplando absorvido o céu,
Separavam-nos o vento gritante
No regaço embalando um sonho
Que nos cobria com o seu véu.

Pensei que estavas numa oração
Pois estavas totalmente absorto
Olhando uma prece de esperança,
Pensei que pedisses talvez perdão
Ao Deus que te seria conforto
Por alguma irreverência de criança.

Fui-me aproximando lentamente
Como gatito matreiro e lento
Até espontaneamente de tocar,
A tua dor estava mesmo na semente
Dessas puras lágrimas de talento
Que do teu rosto estavam a brotar.

Mas a tua oração era diferente
Qual onda frenética e convulsa
Nascida de uma dor tão sincera,
Choravas triste e descrente
Numa nobre reacção de repulsa
Pela injustiça que te dera.

Foi então que para o horizonte olhei
Na procura de uma qualquer piedade
Que justificasse a tua dor de desmaio,
Olhei e com mágoa então reparei:
Lá em cima no fio de electricidade
Estava pendurado o teu (papa)
gaio.

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