terça-feira, 3 de junho de 2008

Meu velho


São velhos os teus olhos,
Carcomidos os teus sentidos,
Triste o teu sorriso;
A vida foram abrolhos
Que deixaram espinhos perdidos
No ventre do teu juízo

Quando ris não sei se choras,
Quando choras não sei se lamentas,
Quando lamentas não sei se pagas;
Sei apenas que moras
Nesse córrego de tormentas,
Crivado de ódios e chagas.

Chamaram à tua sepultura
O reproduzir e viver,
Sonhando com alguém;
Não te disseram que essa tortura
É o ventre do morrer,
O sangue de matar alguém.

Nunca te disseram, meu velho,
Que quem não vive para servir
Não serve para viver;
Por isso estás nesse quelho
Olhando o sol que vai cair
E a noite que vai sobreviver.

Serviste para viver
Mas não viveste para servir
Os irmãos da nossa terra inglória;
Por isso sentes que vais morrer
Amaldiçoado pelo tinir
Da campainha da história.

Dos fracos ela não fala,
Toda a sua textura é ávida
De dádivas de heroísmo;
Nada a cala
Quando se sente grávida
De traições e fanatismos.

Mataste irmãos de sangue,
Ludibriaste homossexuais
E tuas filhas foram prostitutas,
A tua vida é exangue
Sarcástico desejo de animais,
Podridão de uma vida de lutas.

Se pagasses quando lamentas,
Se chorasses quando ris,
E não risses nunca mais:
Então o perdão que amamentas
Ser-te-ia dado pelo supremo juiz
Deste mundo de animais.

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