segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vermelho de sangue sem fé

Nos córregos da esperança
fecundei o olhar de um país
de sonho sem qualquer latitude.
A quimera era apenas uma lança
que feria de morte a raiz
de uma tão cobarde atitude.

A minha criança negra recusa
pétalas celestes de amanhã
nascidas da nossa terra queimada.
Sonhar é algo que não se usa
porque até a esperança é vã
e a vida uma morte alada.

Huambo, Huíla, Benguela,
mapa acéfalo de recortes
e de pitangas mais agrestes.
Amorfismo da minha cela,
de grades feitas de mortes
sem cruz, beijos ou vestes.

Tulemba, espírito reinante,
irmão ganguela do passado,
passado mortífero que assola.
Jamais a Mãe preta será amante
daquele espírito bom e amado
do avoengo Ginga ou Txissola.

Quimera sim do Upuango,
qual Kissange nas noites do Bié,
na negridão da noite Luena.
Nosso, esse rio Cubango
vermelho de sangue sem fé
negro de vida nada serena.

Sem comentários: